4.20.2017

Artigos de opinião





Em assessoria de imprensa, via de regra, o profissional sempre trabalha com a opinião e/ou o posicionamento crítico de seus clientes. Seja para enaltecê-los sobre seus planos de expansão, para se sobressair diante da concorrência – quando falamos de empresas que oferecem produtos, bens ou serviços – ou para demonstrar que seu porta-voz tem vasto conhecimento em determinada área/assunto e, por isso, vale o interesse dos jornalistas em ouvi-lo para as pautas que estão produzindo.

Dentro do vasto universo de possibilidades de divulgação de um posicionamento crítico e de conhecimento específico de determinado cliente, os artigos de opinião são, sem dúvida, aqueles que demandam uma maior atenção do assessor de imprensa. Se o velho ditado “o papel aceita tudo” é válido e correto, é preciso muito mais do que uma simples revisão do português ou um rearranjo no texto para ficar ‘vendável’ à imprensa.

Pelo alto teor opinativo, os artigos concentram algumas armadilhas sorrateiras que podem passar batidas pelo assessor de imprensa e, por vezes, complicar o bom relacionamento com seu cliente (não raro, não com o autor do texto). Mas por quê? Por experiência, os autores, normalmente quando escrevem, colocam sua opinião e conhecimento técnico nas páginas analisando determinada questão sem se preocupar com o que podemos chamar de ‘manual da marca do cliente para a redação de artigos’.

Quando falo sobre este ‘manual’, não me refiro somente à linguagem técnica ou formal, à forma ou ao tamanho do texto que será enviado à imprensa. Grande parte das armadilhas nos artigos está concentrada nos aspectos que podem ser considerados polêmicos, como os posicionamentos políticos e religiosos, contextos raciais, sexuais etc., questões pessoais que, possivelmente, confrontarão com a posição corporativa da empresa cliente.

Por exemplo, em uma empresa de consultoria financeira um consultor sênior contratado e que não possui parte na sociedade da empresa escreve um texto ponderando sobre uma nova reforma do governo Federal. No conteúdo, mais do que a análise sobre se a decisão foi acertada ou não, o autor critica o atual governo e defende seu antecessor, deixando claramente sua preferência política nas linhas do artigo.

Como o autor do texto na situação acima é exemplificado como um ‘simples’ colaborador contratado, este deve, prioritariamente, expressar sua opinião crítica dentro dos limites pré-estabelecidos pelo posicionamento da empresa, definidos nos planos de comunicação e divulgação, pois é a companhia a quem o funcionário responde quando assinará o artigo. “Fulano de tal, consultor financeiro sênior da ZYKBPS Investimentos”.

Sendo assim, ao assessor cabe o sentido de ‘detetive do posicionamento alheio’, entrando em operação para ler e interpretar se o texto ou parte dele contém desvios de condutas críticas não condizentes com a posição da empresa. Caso haja, uma das primeiras opções é enfatizar sugestões ao autor sobre o que deve ser alterado, pedindo alteração e aprovação. Sempre prudente, também, remeter o conteúdo à diretoria, chancelando o OK final antes do envio à imprensa.

Se “o papel aceita tudo”, como já disse por aqui, lembre-se também que “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Mais vale ser extremamente cauteloso do que manchar a imagem do cliente não somente na imprensa, mas no mercado em que ela atua. Com artigos de opinião, todo cuidado é pouco. Boa sorte!

MARCOS Vargas
Assessor de imprensa na LB Comunica
rockeiro e palmeirense, fã de livros biográficos e sobre política

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...